Língua Portuguesa - 7º ANO
03/09
1. Leia a crônica a seguir e, depois, responda às perguntas:
Crônica de um jovem salvo pela literatura!
Sou quem sou, graças aos livros, se não fossem eles
eu estaria à sete palmos abaixo da terra.
Nasci em uma família onde a leitura vinha em último plano. O máximo que acontecia era um dos meus tios que, aos domingos, durante o café da manhã abria um jornal, o extinto Diário Popular, e ficava ali a folhear durante horas. Mas isso não durou muito, pois ele acabou ficando desempregado e o primeiro corte de gasto foi o jornal.
Um outro tio que hoje é padre, fora durante alguns anos, coordenador da sala onde estudava e muito amigo dos professores e diretores. Sendo assim, ganhava muitos livros. Às vezes chegava em casa com uma caixa fechada de livros novos. E eu nem aí com nada. Só queria mesmo era saber de empinar pipa, jogar bolinha de gude, rodar pião, brincar, brincar e brincar. Lembro que o primeiro livro que fui obrigado a ler (e não li) foi indicado pela professora de literatura quando eu estava na quinta série. Ela passou o livro no início do bimestre e, no fim dele, iria dar uma prova. O tempo foi passando e nada de eu ler o livro. Até que num domingo, que antecedia a prova, eu resolvi pegar a obra. Antes, porém, havia perdido a pipa que empinava. Então lá fui eu, naquela tarde calorosa, em que o céu azul era completado pelas pipas e pelos pássaros que voavam no ritmo do vento. Peguei o livro, observei a capa, vi a página de rosto, li a primeira página, passei para a página do meio, e... Olhei para um lado e para o outro, fui até a página final, li e fechei o livro satisfeito.
– Bom, dá pra tirar metade da nota. – Pensei sorridente.
No dia seguinte, a professora mal deu bom dia e tome-lhe prova. Resultado: não consegui responder nenhuma pergunta.
Com isso, eu cheguei à conclusão de que quando se faz algo que é obrigatório, não rende e não se produz nada.
Em 1998, mudamos de Itaquera para Suzano e mesmo assim continuei trabalhando como cobrador de lotação onde eu morava, e pra isso pegava os trens da CPTM às quatro da manhã. Só que três anos depois, chegou um momento em que eu não aguentava mais ficar olhando para cara das pessoas dentro do vagão, e não conseguia cochilar. Precisava fazer alguma coisa para passar o tempo, aquilo ali estava ficando um marasmo dos diabos; as pessoas quando não estavam dormindo, ou estavam jogando baralho (e eu até hoje não sei jogar, a não ser o 21 que, muitos conhecem pelo nome de burrinho), ou fofocando ou falando das novelas. E foi então que comecei a prestar atenção n’algumas pessoas que liam livros ou riscavam revistas de passatempos.
Pedi um livro para o meu tio, que tinha vários debaixo de sua cama. Ele negou dizendo que eu não iria ler, e que iria era estragar os livros.
Deixa estar, eu dou um jeito. – Disse para mim mesmo com um riso sarcástico.
E foi quando ele deu uma saída, entrei no quarto e peguei um livro. Comecei a ler no trem apenas para passar o tempo. Alguns dias depois, eu já reclamava quando a composição chegava na estação de Itaquera.
Poxa vida, podia ter mais uma estação pra eu ler pelo menos mais uma página...
E virei leitor de fato, lia não mais para passar o tempo, e sim por prazer e busca de conhecimentos. E assim os livros foram sumindo das caixas debaixo da cama do meu tio.
Até hoje ele não sabe disso. Aliás, até o momento que ler esse texto.
Sempre fui bom em redação, escrevia histórias com muita facilidade na época da escola. Só não gostava de ler, ou não me ensinaram a gostar. Então comecei a colocar no papel tudo aquilo que via no meu cotidiano. Todas as cenas de injustiças sociais. Assim me sentia vingado, pois estava em um momento de inquietação e conflito; meu padrasto havia acabado de desaparecer e eu virara chefe da casa, o único que tinha um emprego (informal), e com 19 anos de idade.
Precisava fazer alguma coisa para me extravasar; ou eu partia para o lado da pólvora (crime), ou para o lado do açúcar (cultura). Optei pelo açúcar, que às vezes é um pouco amargo. Então, todas as coisas que eu tinha pra dizer, colocava no papel em forma de rap ou de texto literário, e não mais me sentia pequeno. A partir daí, percebi que eu poderia fazer um estrago muito maior com a literatura, o contrário se eu tivesse ido para o crime.
E assim comecei a ser mais seguro de mim mesmo, dono de minhas atitudes e dos meus atos. E toda vez que eu estou em algum local público e abro um livro, me sinto o todo poderoso, como se eu tivesse o bem mais precioso do mundo; e tenho.
O modo e as técnicas de como escrever eu aprendo lendo. O talento já veio comigo, só preciso aperfeiçoar a cada dia.
Três anos e meio depois de tudo isso, lancei o romance “Graduado em Marginalidade”, meu primeiro livro. No ano seguinte (2006), lancei uma obra de contos, intitulada “85 Letras e um Disparo”. Antes, porém, participei de vários concursos literários e fui premiado em muitos deles.
Sou quem sou, graças aos livros. Se não fossem eles eu estaria a sete palmos abaixo da terra.
E hoje procuro mostrar a muitas pessoas o que um livro pode fazer na vida de alguém. Eles salvaram a minha e continuam salvando.
A literatura também salva. Esse é o meu testemunho.
Sacolinha. Texto gentilmente cedido pelo autor.
a) Os cronistas, ao escreverem seus textos, procuraram tratar acontecimentos do dia a dia. Na crônica de Sacolinha, qual o assunto abordado?
b) O que você compreende pela expressão destacada no trecho: ” Sou quem sou, graças aos livros, se não fossem eles EU ESTARIA A SETE PALMOS EMBAIXO DA TERRA” ? Por que, provavelmente, ele afirma isso?
c) Na passagem: “Mas isso não durou muito, pois ele acabou ficando desempregado e o primeiro corte de gasto foi o jornal”. Normalmente, quando há cortes de gastos em uma família, uma das primeiras opções está relacionada ao universo da leitura, que é considerada, muitas vezes, um gasto desnecessário. Posicione-se a respeito, discutindo acerca das desigualdades no país.
d) Qual crítica é feita pelo autor em relação à obrigatoriedade da leitura que, diversas vezes, são observadas em sala de aula?
e) A linguagem informal é mais espontânea, sendo mais utilizada em situações cotidianas. Em qual dos exemplos a seguir ela se faz presente?
( ) Um outro tio que hoje é padre, fora durante alguns anos, coordenador da sala onde estudava e muito amigo dos professores e diretores.
( ) No dia seguinte a professora mal deu bom dia e tome-lhe prova.
( ) Às vezes chegava em casa com uma caixa fechada de livros novos.
( ) naquela tarde calorosa, onde o céu azul era completado pelas pipas e pelos pássaros que voavam no ritmo do vento.
f) O poeta Sérgio Vaz, em sua página do Facebook afirmou: “Inclua leitura na sua dieta. O cérebro também precisa de leitura”. Qual a semelhança entre essa citação e a crônica do autor Sacolinha?
g) O fato que fez o autor da crônica “ler” o livro indicado pela professora foi:
( ) medo de tirar uma nota ruim.
( ) ter perdido a sua pipa.
( ) perceber que estava atrasado com a leitura.
( ) a tarde estar ideal para a leitura de um livro.
h) Em: “Peguei o livro, observei a capa, vi a página de rosto, li a primeira página, passei para a página do meio, e...”, o uso das reticências indicam:
( ) angústia
( ) impossibilidade
( ) raiva ( ) desmotivação
i) Em relação ao uso da palavra MAS no trecho: “Mas isso não durou muito, pois ele acabou ficando desempregado e o primeiro corte de gasto foi o jornal”, pode-se afirmar que:
( ) introduz uma ideia de explicação em relação ao período anterior.
( ) pode-se substituir pela palavra “e” sem que ocorra alteração de sentido.
( ) a palavra introduz uma ideia oposta em relação ao período anterior.
( ) pode-se substituir pela palavra “afinal”, pois inicia a última oração do período.
j) Cite um trecho que comprove o que foi afirmado no título da crônica:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário, responderemos o mais breve possível!